Pesquisador afirma que estações chuvosas ficaram mais curtas: queimadas e desmatamento são ‘agrosuicídio’
" Estamos matando nossa galinha dos ovos de ouro"
O agronegócio também é um dos setores que deve se preocupar com o desmatamento e as queimadas desenfreadas que vem assolando Mato Grosso neste ano. Segundo o pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMT), Raoni Rajão, as estações chuvosas têm ficado mais curtas, o que pode atrapalhar, e muito, as colheitas.
“Nos últimos 15 anos, o padrão de chuva na região Sul do bioma Amazônia já mudou. A estação chuvosa ficou um mês mais curta, se isso diminuir mais, isso significa que não será possível ter duas colheitas no mesmo ano, na mesma área, só com chuva, o que era um grande trunfo do agronegócio brasileiro”, explicou o pesquisador em entrevista à TV Globo.
Além disto, Raoni ainda acrescentou que o “desmatamento e as queimadas, em última instância, são um ‘agrosuicídio’. Estamos matando nossa galinha dos ovos de ouro [que é o agronegócio]”.
A mesma reportagem mostrou que o aquecimento global, que tem sido ponto de preocupação ano após ano, tem feito em 2020 algo parecido com o que aconteceu em 2005. A temporada de furacões acima da média nos Estados Unidos da América (EUA), o que gerou até a escassez de nomes para eles, tem ‘puxado’ a umidade do oceano para longe do Brasil, causando menos chuva no Brasil.
Responsáveis por levar tanta chuva e ventos, os furacões têm sido mais frequentes este ano. As águas do Oceano Atlântico estão mais quentes, o que propicia a formação deles. Este ano, conforme dados de diversas pesquisas, tem sido muito parecido com o de 2005, quando o ‘Katrina’ devastou a cidade de Nova Orleans, que fica no estado americano da Luisiana.
“Até este ano, 2005 tinha sido o pior em termo de furacões e tempestades nos EUA. Coincidentemente, foi o ano que mais se queimou no Pantanal. Quando olhei para os dados de 2020, vi claramente o mesmo padrão. É fácil fazer esta conexão entre o que acontece na temperatura dos oceanos com o que acontece na Amazônia”, disse Ana Alencar, diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, em entrevista ao Fantástico.
A umidade do oceano, que entraria na Amazônia para ajudar a formar os corredores de chuva no país, acaba sendo sugada pelos furacões e levada para longe. Com menos umidade, o Brasil conta com menos chuva. Isso faz com que os períodos de seca sejam ainda maiores, o que contribui para que os incêndios sejam cada vez mais devastadores.
Solange Ikeda, pesquisadora da Unemat destacou a importância de conservar o Rio Paraguai e seus afluentes e explicou a dinâmica dos chamados ‘rios voadores’.
“A água evapora do Oceano Atlântico, chega na Amazônia e é barrada pela cordilheira dos Andes. Então a água chega aqui no Centro-Oeste e no Sudeste e deságua em forma de chuva”, disse a pesquisadora da universidade estadual.
“Pantanal não é só onde alaga. Tudo que acontece no planalto interfere na planície. É importante haver política integrada para planalto e planície, para não permitir plantio de soja, como é permitido em outros biomas”, disse a professora Onelia Rossetto, da UFMT. Ela apontou ainda o plantio de espécies exóticas de pasto para engordar o gado e o baixo índice de áreas protegidas como fatores que agravam os incêndios no Pantanal.
Olhar Direto
Fonte: Olhar Direto
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